8 de dezembro de 2008

Lou 1:2

Nós conhecemos nossa verdadeira opinião sobre algo apenas quando estamos nus diante da situação sobre a qual tão ferrenhamente argumentamos.



*We only know our real opinion about something when we are nakced facing the situation which we have so fiercely argued about.



*Nous savons notre réel avis sur quelque chose seulement quand nous sommes nus devant la situation sur dont nous avons furieusement raisonné.



**Não me canso de me desculpar pelas traduções mal-feitas. I can't help apologizing about the poorly made translations. Je suis franchement desolée pour les mauvaises traductions.

7 de dezembro de 2008

Viver de outra maneira

*Esse post é uma tradução despretenciosa feita por mim de um post escrito por um belga, nesse link:
http://un.homme.a.poilsurle.net/?page_id=287
Alors, aux francophones, s'il vous plaît, allez-y :)

Bom, além do título pomposo, eu gostaria de fazer uma série de artigos sobre os meios que nós temos para viver de outra maneira neste momento.
A primeira questão que se pode fazer, naturalmente, é: Por que se deveria viver de outra maneira?
A resposta é simples: nosso modo de vida atual não é durável, simplesmente, porque os recursos naturais sobre os quais ele repousa não são ilimitados.
De duas coisas uma, ou se tenta negar a evidência e continua-se a crer cegamente em uma economia de mercado que terminará logicamente por considerar todas as necessidades elementares como mercado (já não se está muito longe), isso com o risco evidente de um “clash” gigantesco que nos levará ao muro; ou aceitemos o fato de que nós não podemos continuar a viver como fazemos e reflitamos sobre alternativas possíveis com a idéia de reduzir a amplitude do “clash” que nos espera.

I. Renunciar a televisão
Nesse sentido, a primeira coisa a fazer é mudar as mentes libertando-se dos veículos de massa, que nos forçam ao consumismo. O primeiro deles é bem evidentemente a televisão.
Sejamos bem claros, não é a televisão em si que eu condeno. Ela pode ter um papel na edificação popular. Não, o que eu condeno é serviço total à publicidade e ao merchandising de maneira geral, que a transforma em um meio totalmente passivo, nada procurando senão vender o tempo de cérebro humano disponível aos anunciantes.
Claramente a publicidade é invasiva e, como um câncer da nossa sociedade, ela se infiltra até nos menores cantos de nossas vidas. Livrar-se da televisão não nos permite lhe escapar inteiramente; mas eu constatei que a televisão, mídia que associa o som à imagem, é muito mais eficaz que os outros (som ou imagem) e, por conseguinte, suprimi-la permite diminuir a intensidade de agressão publicitária.
Por outro lado, a submissão da televisão (como também de outras mídias) aos anunciantes implica igualmente na vontade daqueles de evitar todo assunto que os poderia aborrecer, criando assim uma forma única de discurso e evitando qualquer tipo de questionamento sobre o modelo de sociedade em que vivemos.
A televisão é uma prisão para nossa mente, uma prisão tão perniciosa que através da multiplicação de canais e programas ela quer nos fazer crer que nos temos a escolha. A única verdadeira escolha que nós temos é de extingui-la... ou não.

II. Evitar o carro
De novo, uma precaução liminar, não é o carro em si que eu culpo, mas seu uso intensivo como veículo individual... É necessário dissociar bem a tecnologia do seu uso.
O que me força a recusar o carro na cidade? Vários elementos justificam essa atitude:
1. A esmagadora maioria dos veículos circulando na cidade não serve senão para transportar uma pessoa, o condutor; há, por conseqüência, um aumento constante do trânsito e, portanto, um aumento dos engarrafamentos, dos acidentes e da poluição...
2. A utilização de um veículo individual participa da desumanização crescente da nossa sociedade. Basta constatar o egoísmo latente da maioria dos condutores...
3. O carro nos deixa preguiçosos (em todo caso, isso é uma constatação pessoal)
Eu sei que os transportes públicos não são perfeitos, longe disso e eu não sou a favor de uma interdição pura e simples do carro na cidade (que seria certamente tão ilusória quanto ver o código de trânsito estritamente aplicado...). Eu militaria antes por uma regra do estilo “não mais de duas rodas por pessoa” em conjunção com uma política favorecendo dos meios de transporte alternativos ao carro (bicicleta, zonas de pedestres, transportes públicos gratuitos...).
Evidentemente, para muitos, o carro continua sendo sinônimo de liberdade; mas de que liberdade se fala? Daquela de se encontrar emperrado nos engarrafamentos? Daquela de se irritar com os loucos ao volante que colocam todo mundo em perigo? Daquela de gastar uma parte considerável do orçamento com seguro, combustível, manutenção, etc.? Daquela de andar em círculos durante dezenas de minutos a fim de encontrar um lugar para estacionar? Daquela de poder poluir livremente?
Eu tive ocasião de utilizar regularmente o carro durante um período de mais de seis meses e, pessoalmente, o estresse que isso gerou foi muito maior ao que eu vivi durante as dezenas de anos que utilizei os transportes públicos.

III. Produzir e consumir localmente
Essa terceira (e por enquanto última) etapa da minha reflexão sobre como viver de outra maneira é sem dúvidas também a mais difícil de colocar em prática, essencialmente porque nós não dispomos de todas as informações necessárias para fazer nossas escolhas.
O pensamento inicial não é, afinal, senão certa forma de bom senso. Realmente, não é absurdo enviar lagostas pescadas no mar da Escócia à Tailândia antes de encontrá-las nos nossos pratos? Ou ainda, é lógico que uma empresa francesa nos venda frangos brasileiros?
A essa altura em que nós deveremos enfrentar a falta de certas matérias primas essenciais ao nosso modo de vida, e seu corolário, ou seja, a destruição do nosso ecossistema, parece-me natural que se queira privilegiar o consumo de produtos inteiramente locais (quando eu digo inteiramente locais, entendo por isso toda a cadeia de produção que se situa nas proximidades do seu local de venda).
Isso parece simples na teoria; mas é por fim bastante difícil de realizar. Na verdade, a maior parte dos produtos exibe sua origem, mas raramente o caminho seguido até seu ponto de venda. No mais, isso pode igualmente implicar em dilemas cornelianos do gênero: produto bio/equitativo de longe ou produto não-bio/não-equitativo, mas produzido localmente?
De outro lado, consumir localmente implica necessariamente em produzir localmente. E aí as coisas se complicam... Na verdade, como favorecer eficazmente a produção local, e, ainda mais importante, como me assegurar que eu posso produzir (ou trabalhar) localmente? Pois que eu tenha pessoalmente a chance de morar num “campo de trabalho” para o meu setor, eu conheço pessoas que viajam cotidianamente mais de 100 km simplesmente para chegar ao seu local de trabalho...
Mais uma vez, é todo nosso sistema de trabalho e consumo que deveríamos rever. Destruir o sistema concentrador (zonas industriais, periferias...) dentro dos quais nós sobrevivemos mais que vivemos...
Mudar nossa lógica consumista que nos força a comprar sempre mais para desfrutar sempre menos... (“trabalhar mais para ganhar mais”? E por que não trabalhar menos para viver melhor?).

26 de novembro de 2008

Igualdade

Um felino habita seu espírito, seu andar sinuoso revela patas fortes, seu nariz é um focinho úmido farejando aventura. Ela espera que um estranho a tome na calada da noite, forte e vigoroso, para que ele não tema quando descobrir que o seu perfume de fêmea é livre, violento, insolente; para que ele fique excitado quando encontrar no sexo dela um desejo de auto-saciedade e não de sedução...

*A feline inhabits her spirit, her sinuous walk reveals strongs paws, her damp nose sniffs adventure. She waits a stranger to take her in the quiet night, strong and vigorous, for that he doesn't fear it when he discovers that her scent of female is free, violent, insolent; for that he gets excited when he finds in her sex a desire of self-satisfaction, not of seduction...

o meu primeiro arremedo de tentativa (mesmo que despretenciosa) de transformar esse blog em um blog
bilíngüe...

Ingênuo protesto

Que eu não saiba exatamente o que é liberdade... Sei, contudo, o que ela não é.
Resposta bem-educada ao seguinte comentário:
"O dinheiro traz liberdade. Um pobre nem entra num restaurante, alguém que tem um pouco mais de dinheiro escolhe o prato pelo valor e um rico sequer consulta o preço. Ele é livre para escolher o que bem entender."
Eu me pergunto, será então o consumo um sinônimo de liberdade? A resposta é óbvia: não!
E digo mais, se fôssemos capazes de diminuir as frustrações causadas pelo estilo de vida capitalista, com certeza, isso diminuiria nossa vontade de consumir. Sem os desejos superfluos, estaríamos livres para trabalhar cada vez menos nas coisas que não servem senão para sustentar nosso vão apetite consumista... Livres para nos descobrir, livres para sermos nós.
Eu quero escolher coisas mais importantes que o prato mais caro, a roupa da estação, o carro do ano...
Henry Miller, fala sobre trabalhadores imersos na inércia cotidiana, em Sexus:
"Eram apanhados pela engranagem desde o nascimento e continuavam presos até a morte; e tentavam dignificar esse ramerrão chamando-o de "vida". Se você pedisse a algum deles que explicasse ou definisse a vida, qual era o fim e o destino das coisas, receberia apenas um olhar vazio em resposta."
Que cada um recuse a prostituição de suas aptidões e desejos mais profundos em prol dessa noção distorcida de liberdade.

24 de novembro de 2008

Interlúdio - elogio ao auto-conhecimento

"Qualquer que seja a direção de nossa escolha, nos acharemos numa sala de espelhos; correremos como loucos, procurando uma saída, para descobrir que estamos cercados apenas por imagens distorcidas do nosso próprio querido ego." (Henry Miller, em Sexus)

Por isso, coloquemos uma das mãos entre as pernas... E de coxas molhadas, com a outra mão na cabeça, pensemos em todo resto. Isso é a vida.

22 de novembro de 2008

A poeira luminosa das idéias



"If the doors of perception were cleansed, everything would appear to man as it is, infinite.” (William Blake)

“Se as portas da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como é, infinito.”

Porque meus olhos não são objetivas, deixei às novas câmeras digitais (ou mesmo, às polaróides), aos poetas malditos e seus ferrenhos discursos o direito de dar contorno às formas. A mim, restou a particular tarefa de iluminar os objetos com suas cores complementares. Porém, a idéia não é original.
Em Um domingo de verão na Grande Jatte (1886), George Seurat deu sua perspectiva científico-artística do mundo: uma crítica apuradamente irônica à sociedade dos autômatos imersa em sua seriedade. Através de suas referências pictóricas à inércia social, com troncos cilíndricos, sombras perpendiculares, seus manequins geométricos bem distribuídos em proporção áurea (quase como num tabuleiro de xadrez), ele privou a natureza do imprevisto, nenhum vento soprava folhas e a luz era comedidamente exata ao propósito de iluminar a paisagem pitoresca e domada – não rasgava as vistas, nem eclipsava corações. Deliberadamente incongruente, Seurat salpicou a imagem com bem-temperadas e bizarras personagens: a senhora com um macaquinho na coleira, um homem tocando trompete e a arrebitada dona com uma vara de pescar.
Todavia, com o desenvolvimento tecnológico, o advento da fotografia, desde a revolução artística permanente no fim do século XVIII, os artistas foram obrigados a colocar em xeque a antiga visão técnica da arte, como sir Ernst Gombrich chamou: “a ruptura na tradição”. Sem o brilhantismo empírico dos seus precursores impressionistas, Seurat e mais alguns companheiros fizeram um profundo estudo de como desestruturar a imagem, eliminar o contorno e levaram a cabo a tarefa começada um pouco antes, dando vida ao Pontilhismo. Ao contrário dos impressionistas, Seurat não pintava a luz natural e não permitia em seus quadros a existência do improviso, do inesperado. Tudo era devidamente calculado e estudado. As cores eram acrescentadas a golpes pequenos e precisos, pontilhando a tela através do conjunto de cores que forma o todo, e não a mistura delas – como se fazia até então. Assim, Seurat acreditava que as cores se misturariam no cérebro, formando o tom plano que nós enxergamos afinal. Contudo, como Cézanne, ele não apreciava a propensa desorganização que essa técnica podia causar. Por isso, reduziu a imagem e o espaço a formas geométricas.
Infelizmente, Seurat – morto precocemente aos 32 anos, em 1891 – não conhecera os estudos sobre a composição do átomo feitos por Niels Böhr no início do século XX. Por volta de 1910, esse físico dinamarquês propôs que os átomos giravam em torno do núcleo em camadas e níveis de energia. E depois disso, os estudos sobre o universo subatômico nos levaram a conclusões cada vez mais assustadoras sobre o cerne da matéria.
Porque eu também me questionei sobre a dureza dos objetos quando me deparei com o vazio de um átomo, não enxergo o mundo com tanto pragmatismo.
Se feito o exercício de ampliar um átomo até o tamanho da cidade universitária da USP, isto é aproximadamente 4km², poderíamos visualizar o núcleo do tamanho de uma azeitona preta miudinha. Os elétrons seriam ainda menores. E tudo, absolutamente tudo, entre núcleo e elétrons, seria um vasto oco. Essa perspectiva é inquietante. Toda a matéria é composta por pequenos conjuntos desses minúsculos vazios.
Ainda mais ousado é pensar que o lócus de um elétron é apenas uma tendência, ou melhor, padrões de probabilidade. A vida só é sólida porque padrões probabilidade são difíceis de comprimir. Derrubando a visão de que um átomo se parece com uma bola de biliar, podemos finalmente enxergar que aquilo que compõe a matéria é um sem-número de conexões. Não existem objetos no nível subatômico, apenas uma contínua troca de matéria e energia. Todos nós fazemos parte de uma inseparável teia de relações, sem limites que possam ser definidos senão como ilusões.
Seurat previu isso em sua nova técnica, provavelmente inconsciente, porém inegavelmente brilhante. Expressando a vida através de uma poeira colorida e interconectada, ele não reduziu simplesmente o espaço a uma perspectiva euclidiana (apesar de suas formas quase matematicamente geométricas), mas sim o transmutou numa massa luminosa que jamais era interrompida.
Portanto, sem nos poupar de sua delicada crítica, Seurat nos presenteou também com uma visão sensível e perspicaz da realidade. E por mais complicado que possa parecer, o que há de mais sólido no mundo é na verdade o mais extenso e suave encadeamento idéias.

Livros:
Arte moderna (Argan)
A história da arte (Gombrich)
Impressionismo (Meyer Schapiro)


Filme:

21 de novembro de 2008

Lou 1:1

abençoados sejam os ignorantes porque eles dormem o sono dos justos.

jamais esqueça as entrelinhas

deixando as sombras do silêncio...
deixando às sombras meu silêncio.
deixando as margens da loucura...
deixando às margens minha loucura.
deixando as horas de solidão...
deixando às horas minha solidão.

um gosto nostálgico, regado por cores e temperado com erotismo.